O coordenador do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids no Brasil (UNAIDS), Pedro Chequer, se queixou da decisão do governo federal de suspender a distribuição de um kit gay governamental com mensagens de combate à chamada “homofobia” e de incentivo de uso da camisinha. Ele disse que a ONU recebeu “a notícia com desapontamento e surpresa”.
Para ele, quando o governo brasileiro cede à pressão do que ele classifica de grupos religiosos, passa uma péssima imagem para a ONU. Ele disse: “A mensagem de independência pode ser substituída por uma postura retrógrada, de quem restringe suas ações em virtude de dogmas religiosos”. Esses dogmas religiosos são essencialmente cristãos, conforme desabafo dele no ano passado, quando ele declarou: “Urge lutar para a retomada do Estado verdadeiramente laico porque em muitos países estamos vendo como o fundamentalismo religioso — dos pentecostais no Brasil ou dos católicos em muitos países hispano-americanos católico — prejudica seriamente o combate à AIDS”.
O jornal O Estado de S. Paulo informou sábado, 16 de março, que o kit gay havia tido sua distribuição suspensa. Formado por seis gibis e peças de orientação para professores, o material havia sido produzido em 2010 pelo governo Lula, com a colaboração da ONU e de organizações dos EUA. Apesar do entusiasmo no lançamento, os gibis, com conteúdo explícito que em nada diferia de pornografia homossexual, não chegaram a ser amplamente distribuídos, a fim de não atrapalhar a candidatura presidencial de Dilma Rousseff. Para evitar polêmica com os líderes evangélicos, de quem o PT precisava para se reeleger, o governo Lula achou melhor guardar o material para distribuição em momento mais oportuno.
A nova suspensão, ordenada pelo governo através do ministro da Saúde Alexandre Padilha, foi causada pelo mesmo motivo: a aproximação da eleição presidencial de 2014. O medo de que a reação do povo e dos líderes evangélicos se transforme em resposta vigorosa nas urnas fez o governo recuar.
A Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), que ajudou a produzir o kit gay, também criticou o recuo.
O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno Silva Fonseca, afirmou que fará cobranças formais ao Ministério da Saúde.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, deputado Pastor Marco Feliciano, elogiou a decisão. “O ministro nada mais fez do que honrar um compromisso de governo. A bancada evangélica já havia manifestado o receio de que o kit circulasse novamente”, afirmou. “Temos a garantia de que qualquer material de conteúdo mais polêmico não circule antes de ser avaliado e sem a nossa aprovação.”
Com informações da revista Exame e do site homossexual A Capa.